3 de jul. de 2010

exposição Coleções, de Lucas Di Pascuale



Lucas Di Pascuale (Córdoba, Argentina)

www.lucasdipascuale.com.ar

Exposição:
05 a 27 julho 2010 de 14 às 18h
(segunda a sexta-feira)

20 de julho às 18h
conversa com o artista
+ Marcelino Peixoto (Xepa)
e abertura Coleções Belo Horizonte

Galeria da Escola Guignard (UEMG)
Rua Ascânio Burlamarque, 540, Mangabeiras
Belo Horizonte, Brasil


O que poderia ser lido como desdobramento sobre o ‘mundo interno’ da arte ou como um aprendizado compulsivo sobre o que se acumula no universo de certo modo normativo da noção de artista gerada na modernidade é, no entanto, algo diferente. Lucas o manifesta nos seguintes termos: “pensei o desenho como escrita, a cidade e as idéias de outros artistas como modelos a retratar. Pensei o retrato como um aprendizado y esse aprendizado como o sentido de minha produção”. Folheava os livros emprestados e selecionava com total arbitrariedade algo que quisesse desenhar; às vezes porque lhe parecia familiar ou conhecido (tinha saudades do que era ‘seu’), às vezes porque gostava da imagem ou porque ela o inquietava, às vezes por algo totalmente contrário. Em seguida, devolvia os livros e buscava outros.

Os desenhos funcionam como cópias deliberadas ou traduções a um código único que estandardiza qualquer imagem escolhida (seja pintura, fotografia, registro de vídeo, escultura, instalação, arquitetura, tipografia, design, arte gráfica etc) e equipara, sem cuidados, Goya com Pettibon. Ao passar essas imagens à tinta sobre papel, em um copiar incessante que não permite tentativa e erro, tudo fica igualado. A idéia de copiar obras alheias contém o gesto contrário ao de homenagear: é uma tentativa de captura, de apropriação ‘turística’ desse legado.

Da compulsão resultam versões toscas e literais, em alguns momentos desrespeitosas, em outros voluntariamente infantis, caricaturescas, extraídas de reproduções de obras que –ainda que pareçam familiares– se tornam estranhas. É o oposto à falsificação: entre esses desenhos e seus referentes não existe possibilidade alguma de confusão entre original e cópia.

Ana Longoni, Buenos Aires/Argentina, 2009


As obras de Lucas parecem assinalar sutilmente não só a distância entre o original e a cópia, o alheio e o próprio, a intenção e a realização, senão também expressar uma profunda esperança de que essa distância possa ser abolida. Uma necessidade que, sem assumir o formato dos anos setenta, retoma silenciosamente matizes da utopia. E aí é possivelmente onde emerge a poética dessas obras, que deixam à vista objetos de desejo e a trama das paixões privadas e coletivas, em termos os mais desapaixonados possíveis.

Patricia Ávila, Córdoba/Argentina, 2009

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